terça-feira, 17 de abril de 2007

O Jardim De Tulipas


Eu estava só num jardim de tulipas,

Não havia nada além de tulipas...

Um campo imenso, rubro sob um céu escarlate que se misturava com as flores formando uma paisagem de sonhos...Eu também estava vestida de vermelho, e por dentro sangue....

Podia sentir o gosto do sangue que jorrava por todos os lados do meu coração, cobrindo qualquer outro órgão, que não havia mesmo porquê existir...
Você, não estava ali... E eu sabia que ninguém além de você, seria capaz de me tirar dali, estava certa agora, depois de tanto tempo, que nem os Deuses, talvez por não quererem, talvez por não saberem, jamais me trariam outro amor...

Nesse instante compreendi que nosso amor foi talhado por finas mãos divinas, formando uma escultura tão perfeita, que não havia como a vaidade da divindade, quebrar essas algemas...
E assim seria minha vida terrena, só sem você, eternamente...
Porém não havia sofrimento, havia o contentamento de amar alguém assim...
E então apareceu do nada, três criaturas bizarras... Pude saber que eram as Moiras encarnadas a tecer o meu destino... Soube através de uma abelha sem asas, que sentada em meu joelho me contou onde estivera:
-Estive há pouco ali entre elas, entre a roca e a tesoura.-Vi Cloto a que tecia, rir e chorar ao ver o fino fio do seu destino que estava em suas mãos. Sabia que era o fio do seu destino porque pude ouvir seu nome entre os gemidos lancinantes que as três velhas pelos Deuses empregadas, ali muito alarmadas deixaram escapar.... Cloto a que tecia não entendia por que de repente o fio que nasceu da roca, no começo normal, de repente se transformava, e em um novo tom se mostrava, um tom de um vermelho carnal:
-Não entendo. Disse Cloto com sua voz rouca esganada-Em todos destinos que fiz não encontrei nenhum assim...-Nasce fino como o sopro do vento, mas aqui, onde quase arrebenta nasce um pequeno fragmento, vermelho, forte como um fio de cobre, que diria ser de cobre se não sentisse o cheiro de sangue misturado com jasmim...-Nunca vi um fio assim...

-Láquises a que segurava o fio por ser mais sabia explicou...-A vida dessa mulher abruptamente mudou de rumo... -Vê aqui, onde muda de cor? -Foi aqui, nesse instante que descobriu o amor... -Mas que amor è esse? Brandiu Cloto indignada -Já teci tantas vidas, de tantos amores intensos, verdadeiros e sinceros, este não é normal deve ser coisa de Eros... -Já tive nas mãos o destino de tantos; Tristão, Isolda, Abelardo, Heloisa, já tive Dante e Beatriz, tive Pedro tive Inês, mas nada como este parecido! Pelos Deuses do elegido, que terá acontecido?

Átropo a que cortava, segurava a tesoura e nada dizia, mas pela primeira vez pude ver que sua velha mão tremia...

-Bem, não há nada a fazer, esse fio do outro mundo esta finalmente cerzido, nossa missão para com esse destino há de acabar na tesoura de Átropo, tome tu ó própria morte, vamos!-Esse fio enfim corte!
E então na vasta imensidão do campo de tulipas,ouviu-se um berro sincero, vindo de dilacerada voz, ébria de medo e aflição e da boca de Átropo ecoou decisivo...
-Não! -Não ouso cortar esse fio, nem ousa minha tesoura, já viram algo assim?-Um fio de sangue com aroma de jasmim? -Do alto os Deuses nos vêm, e se vem deles essa obra não serei eu a destruí-la...-Prefiro cegar a tesoura, prefiro por vocês ser banida a sequer me aproximar de ceifar esta vida...
Cloto ficou indignada:
-Não compreende que há a lei? -Quantas vezes minha roca tecer, quantas vezes Láquises medir, sua tesoura há de cortar...-Não entende que é assim o destino dessa gente? -O que a faz tão demente?
-Se a questão é cortar, corto as asas dessa abelha, que nos ouviu o tempo todo sabendo o quão é proibido e sempre há de ser...Ver o nosso trabalho...Tecer, medir e ceifar, ceifar, medir e tecer...


-E numa só tesourada fez sumir minhas asas e assim cai no chão morta de dor e tensão... E vim aqui te contar que nunca mais vou voar, porque o fio do seu destino era assim nem sei como, tão importante, que preferiram fazer pelo resto dos dias uma abelha rastejar que sua vida cortar.....


Eu então olhei pra abelha, mas não fiquei compadecida, nem fiquei aliviada.... Sabia que quem salvou minha vida... Foi você, mais nada....

3 comentários:

Camila Cobucci disse...

esse me fez chorar..me fez gritar por dentro..me fez acreditar que o amor existe sim da forma linda r absoluta do qur sempre foi..e que cada amor é único na sua forma,na sua cor,intensidade e calor..lindo.
se me permite tenho certeza que usarei esse conto na minha vida.

Unknown disse...

linda poesia...espero que sempre haja tb abelhas no meu destino...assim vou ficando por aqui...rsss...

Camila Cobucci disse...

não foi a primeira e nem a ultima vez que chorei por esse jardim de tulipas b, lembro qdo vc me mandou,ha muitos anos atras. é lindo,é meu! obrigada!!