sábado, 28 de julho de 2007

Fragmentos da Menina da Lancheirinha


Kardex...


Fiz um roteiro maluco, com certeza havia algum melhor, pegamos o trem em Paris para Le Mans (sim, a cidade das mil milhas) e depois mais um até Avranches, a cidade que nos disseram ficar mais próxima de Saint Michel.
O trem para Normandia não era em nada parecido com um TGV, rastejava lento como a paisagem, ao longe começaram a aparecer as primeiras casinhas típicas da Normandia, via as vilinhas gaulesas de “Asterix” que eu tanto amava, e numa elucubração imaginei “Kardex” ainda como druida divagando com “Panoramix” numa floresta:

-Um dia numa outra encarnação vou criar um nova religião...
-O que é religião?
-É fazer o povo acreditar, ter uma meta, algumas regras, fazer o bem...Acreditar em Cristo.
-Quem?
-Jesus; ainda não nasceu...
-Você quer alguma poção para febre? Logo ali há um carvalho.
-Por quê? Acha que estou maluco?Tenho visões!
-Acredito em suas visões, não acredito em intermediários entre homens e Deuses.É isso que me parece esse sistema que chama de religião.
-Hora, não somos mais ou menos isso?
-Claro que não, só conduzimos os ritos, os homens observam a natureza e de acordo com ela, a de fora e a de dentro, convocam os Deuses e procedem de acordo com sua ética, e assim dependendo de sua conduta, podem tornar-se um deles ou não. É nisso que acreditamos...
-Me parece desregrado demais..
-A tempestade avisa quando vai derrubar nossas casas? Os campos não nos surpreendem com boas ou más colheitas?
-Sim, por isso para trazer paz ao homem e não deixa-lo a mercê da natureza é que devemos protegê-lo...
-Se o homem fugir da Natureza que está fora, e não sofrer suas intempéries jamais vai saber cuidar de sua Natureza interior, mas não se ofenda com minhas palavras, também tenho minhas visões, em breve virão os romanos “reformados” e nos forçarão a transformar nossos Deuses em um. Deve ser este ao qual você se remete.
-Acha que devo fugir do meu destino?
-Não, mas tente ser uma pouco diferente, se é que me entende..

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Quem?


Entrei
Máquina do tempo
Templário loiro
Vi nos braços meus
Eu
Cigana escura
Vestido azul
Corpos nus
Adeus pela manhã
Ciganinha ruiva
espreitando
Nunca notei
Guerreiro partiu
Nunca voltou
Morri
Ciganinha chorou
E mais ninguém
Afinal
Você é quem?

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Tateando Paredes



Acordei tateando paredes
Porta do banheiro cadê
Interruptor cadê
Apenas eu e paredes
Labirínticas, anímicas...
Riram de mim,
Jogavam-me de um lado para outro
Quis gritar
Gesso, tinta, tijolos.
Calaram minha voz
Estava presa entre paredes
Nós de um marinheiro algoz

Paredes cerebrais
Estava dentro de mim mesma
Oi trapezista
Oi malabarista bipolar
Oi interno lar

Quero sair daqui
Falei
Saia
Falaram
Os anões me empurraram
Pelo buraco do ouvido
Sai de mim, enfim...
Vi a porta do banheiro,
E o interruptor
Luz! E consciência
Em breve estarei de novo
Entre as paredes psicodélicas
Feitas de massa cerebral
Para sempre
Meu itinerante,
Errante
Umbral...

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Hipocritacriptamente

Ai Neruda, Florbela, ai Vinícius...Ai!
Não me levem a mal
Mas poesias de amor já embrejou faz uma cara
Passo mal...

Ó meu amor, que saudades tuas!
Ah, quantos dissabores nessa vida!
Onde estarás tu na noite escura?

Nossa que prefiro o buo da coruja...

Amor é amor e sobre ele tudo já foi dito
Que é lindo, que é dor, que é divino...
Que nos mata, nos revive...
Até eu hipocritacriptamente,
‘Inda escrevo sobre essa sandice
Demente...Mas olhe que meu verso mente...
Ou inventa, pra escrever de outro jeito...
O tantas vezes, melhor dito
Amor maldito!

Ai Pessoa, Bilac, ai!
Ai pior; poetas suicidas!
Morrer de amor, nomelocreo...
Tanto mel enjoa...
E eu que ainda tô nessa
Faço agora uma promessa
Poemas de amor nunca mais
Talvez um ou outro...
Capaz...