quarta-feira, 25 de abril de 2007


A Dança dos Orixás (poesias)



Ela tem a força de Ogum
As cores de Oxumaré
Valentia herdou de Oxóssi
De Nanã, Sabedoria

Yemanjá lhe deu "Ser Mãe" com a garra de Xangô
Oxum, lhe deu ser "Mulher"
Como um verbo a ser conjugado

Yansã que dela é a Guia
Deu o raio e a teimosia que irradia, irradia...

Ela pode até pode pensar
Que Oxalá a esqueceu
Por isso às vezes chora
por isso, às vezes tem medo

Ela ainda não sabe
Que Oxalá, sempre demora
e só sai de seu Congá
Pra neste mundo aparecer
Quando sabe que chegou a hora
Daquilo que tem que ser...

segunda-feira, 23 de abril de 2007


Desabafo (poesias)

Olha que não ta fácil...
Eu to ficando louca, ou to virando Budha
Tudo está em movimento, tuda fala;
O tapete do banheiro, o isqueiro, só falta entender a língua do porteiro
Achar o Graal e a pedra filosofal
E isso é tarefa mais fácil afinal.
A banca de revistas, virou a melhor diversão,
E o chamado do livro, uma bula papal.
As perguntas do meu filho
Viraram as minhas respostas,
Vejo filmes e falo as frases antes de mim.
Não existe dia e noite, nem começo, muito menos fim
Do tempo já não tenho noção
Matei Kronos e não tenho sono.
O anarquismo me possuiu
Me casei com uma ninfa yansã
Que tem muito de “yan”, e nada de sã
Estamos juntas há três chicos
E três Tpms iradas
Ambas recebemos os cruéis no mesmo dia.
E sangro tanto que perece que matei um bode
Assisti irmão urso 2, e depois efeito borboleta
Dormi entre deus e o capeta
Acordei, só depois que não dormi.
Vejo poesia em tudo, menos futebol e big brother
E como penso que já vejo o cume
Até música do Benito de Paula
Ando baixando no emule
Transformei o carnaval
Em visões da aurora boreal
Shiva, esse vejo todo dia,
Assim como Afrodite
Que.....?
Nem espero que ninguém acredite
É só um desabafo
Afinal sou uma Hereita,
A preferida de Safo...

(Fragmentos da Menina da Lancheirinha) Papai


Meu pai era e ainda é na minha visão, um homem muito bonito, dele herdei esses traços mouro-hispânicos típicos da Andaluzia. Alto , moreno, lábios grossos e um sorriso cativante. Só não veio pra mim sua cor levemente mais escura, que a do resto de nós. Mas estava em mim o poder de ficar negra ao sol, só eu e meu pai, minha mãe e meu irmão viravam pimentões.

Lembro como o achava o meu, o mais bonito dos pais da minha infância, era um homem que inspirava força, com um olhar sempre confiante.

Porém dele também herdei os cabelos que com meus sete anos começaram a ficar enrolados, e talvez tenha sido por causa dos seus olhos negros, que os meus nasceram com uma cor confusa. Hoje dizem que é mel, nunca gostei de ter olhos cor de mel, queria ter olhos verdes, verdes como o de toda família, tão verdes quanto os do meu irmão.

É preciso, Amor meu, explicar um pouco de suas origens...
Meu pai é filho de espanhóis, que vieram fugidos de Málaga, na Andaluzia , na época da ditatura Franco, com o tempo descobri que eram anarquistas.

Quando soube dessa história, lembrei-me de Lorca fuzilado por Franco, lembrei de todos artistas mortos em qualquer regime, onde criaturas têm que viver de acordo com a vida experimentada por uma outra mente. Nesses casos, mentes doentias obcecadas pela ordem, poder e outros sentimentos gerados pela incompetência de lidar com seu melhor, ( hoje sei que cultivar nosso melhor é a parte mais difícil), optam por lidar com o mais fácil e tornam-se
mitos de atrocidade pelo mundo...
Quando penso em meus avós fugindo de sua Terra, de suas terras penso em todos esses artistas amputados de suas expressões, penso em Buñuel, Neruda, Dali, Reinaldo Arenas, penso nos que puderam se esquivar ou muitas vezes dissimular seus dons para sobreviver, e penso nos que por serem tão intensos, lutaram até o fim sem sair do lugar, não traíram suas mentes, nem suas convicções. Foram até o fim...Mas penso em todos e por muito tempo e até hoje não nego, exalto quem sabe morrer por um ideal....

Acho que essa herança genética de rebeldia que herdei, liquidificou-se em outros anarquismos gerados por mim mesma, como o “Maravilhoso Anarquismo do Amor”. Tudo em mim era advindo do amor.
Amava as histórias de amores viscerais como em “Abelardo e Heloisa” onde Heloisa na hora de sua morte, “morte de amor”...Preferiu quebrar a cruz ao beijar o símbolo que destruiu sua possibilidade de estar com Abelardo ...Também morto por amor....
Por isso também sempre me fascinei pelas histórias de poetas e escritores e compositores que não agüentaram tanto amor em vida, e buscaram-na na morte, seja suicídio planejado, seja matar-se aos poucos através de substâncias que acalmam ou exacerbam sua pulsante criação...Seja descuidando-se de si mesmo, e entregando-se mais e mais para essa “vida morte” que em suas almas latejantes eram um lugar único. O templo idílico pra onde olhavam quando
produziam sua arte, ato supremo de expressão. Por isso, os mais intensos morreram tão jovens...

E foram tantos, Sylvia Plath no bico do gás, Alfonsina de encontro ao mar, Florbela, Ana Christina Cezar, Hemingway, Wilde, Cobain, Joplin, Augusto dos anjos, Álvares, e tantos..tantos...
Eu conhecia essas histórias desde menina, papai comprou um dia, uma enciclopédia, eram uns 20 livros, cada um com seu tema .Chamava-se “O mundo da Criança”, acho que como fui a única leitora compulsiva de todos eles, descobri muito cedo a história de grandes compositores clássicos.
Como Mozart, Wagner, Tchaikovsky , e suas vidas sempre difíceis, descobri a dificuldade dos poetas, escritores, li histórias de amor que mesmo na forma de contos de fadas ainda eram muito tristes...

(O mundo da criança Amor é muito intenso, se você o descobre nos livros sem arautos sensatos, isso pode trazer mais tarde, dor. Meu pai me deu o melhor presente que tive “O mundo da Criança” daquelas imagens e figuras foi feita uma parte de mim. Depois da tragédia, inverti um pouco as palavras e as imagens. Não... Inverti completamente)

Paradigma (poesias)


Sou um paradigma.

Uma equação sem resultado.

Pra quem me vê,

apenas uma miragem.

Sou um Coração de Romeu,

no peito de um Cavalo Selvagem