sexta-feira, 13 de julho de 2007

Em Cada Pedaço de Ti


Em cada pedaço de ti, habita um ídolo meu.

Nos pés de dançarina, entre o lastro e o suspende.
Sangra Lorca iluminado por seu terrível duende

Nas pernas longas e brancas, pontes do Himalaia.
Mira dançante, arrogante, intrépida tribo de Gaia.

Nas grutas escuras, puras, de sua púbis...
Sinto de Afrodite, o perfume embriagante!
Escravo incauto sigo adiante...

No ventre claro, e macio...
Vislumbro, Rosa’s
E a terceira margem do rio

No horizonte de seus seios
Que os xavantes guardam com receio
Escalo à marcha leve o roncado.
Encontro Fawcett, e seu Eldorado.

Nos ombros largos e precisos
Descanso entre Narcisos
E um Eco se faz aflito
Quando por seu corpo, eu grito!

Ah, pescoço de gueixa!
Quantas tentações nessas areias
Escalo dando-me a elas
Todos despudores de Sereia...

Boca desenhada por Doré
Entre estribilhos de Bach
E navegando neste barco
Caronte me leva soturno
Para o vinho de Baco

Nariz de ninfa rodeado,
Por uma ciranda de fadas-sardas
Farol da mais linda visão
Olhos de mar...
Azul Polar.

Em cada pedaço de ti, habita um ídolo meu
Cabelos rubros, selva de pocahontas
Nas mãos ciganas,
Minhas sílabas profanas
Os braços Kalicos
Seguram todos meus sonhos
Mágicos, tolos, anárquicos...

Em cada pedaço de ti, habita um ídolo meu.
E em mim por ti habita
O fogo de Prometeu.





quarta-feira, 11 de julho de 2007

Nascida Verme





Nascida verme plantei-me no lombo da vaca
Buraquei-me e cresci, cresci...
Moscas...
A cortejar-me
Moscas como companhia
Moscas, noite dia.
E a vaca me alimentando
Sangue, sangue.
Ninguém me viu
Até que engoli a vaca
Cruzei com o touro
Pari um ser torto
Semimorto
Que comi.
Nascida verme,
Avermelhei
O pasto e montes
Fiz rubro o horizonte
E morri no heróico laço
Do chefe do cangaço
Sou lenda na fazenda
Na cidade, mundo afora.
Nascida verme
Avermelhei o milharal
Os campos, cafezais.
Fiz de mim, ser imortal...
Berne, verme,

Feio?
Verme?
Nojo?

Só quem já nasceu verme,
Pode sentir,
Ah humanos!
Pobres...
Explicam dos seres a vadia existência
Sem viver a experiência
Sem jamais sentir o cerne
De um ser nascido verme...