
Quando eu era pequeno e lia um livro na varanda meu pai dizia
-Que livro menino vai surfar, olha o mar!
Eu ia surfar pensando no fim do livro e toda onda me engolia.
-Quando eu lia um livro no quarto e minha vó entrava ela dizia
-Guarda esse livro menino, vai jogar vídeo game.
Eu jogava vídeo game pensando no fim do livro e nunca ganhei jogo algum.
Quando eu passeava no shopping com minha mãe e queria entrar numa livraria ela dizia
-Que livraria menino, vamos ver aquela bermudinha ali!
Eu voltava pra casa com cinco bermudas, três camisetas dois óculos escuros pensando naquele livro da vitrine e esquecia as roupas na sala.
Numa viagem se eu estivesse lendo um livro, meu irmão falava
-Larga esse livro seu nerd, vamos brincar de cuspir pela janela!
Eu cuspia pensando no livro e melava toda porta do carro.
-Se eu lesse um livro no banheiro, minha irmã batia
-Larga esse livro pivete, vem jogar xadrez!
Eu ia jogar pensando no livro e sempre perdia.
Quando enfim cresci e ganhei o prêmio Nobel de literatura recebi uma carta
“Que bosta de prêmio heim menino, está deserdado. Vergonha da família!”.