sábado, 21 de julho de 2007

Fragmentos da Menina da Lancheirinha



-Mamãe o que são górgonas?

Não tive a resposta num decreto, falei da relação com as gárgulas das catedrais que se mostravam monstruosas para afastar o mal. Não convenci nem a mim, e hoje precisei ver isso mais a fundo.

Giuliano explicou pra mim através de uma pergunta a conexão da minha “miopia” com o ser que eu era.
Minha “miopia” impediu que visse as górgonas da minha infância...Essas guardiãs do inconsciente que fazem de seu aspecto tenebroso, um aviso que ainda é cedo para entrar no reino interior e enxergar seu horrores, eu entrei muito cedo sem perceber, talvez não visse coisas tão medonhas assim, ou via e me adequava sem muito medo, por isso é tão difícil pra eu equacionar esses dois mundos. Sempre se intercalavam naturalmente...
Por isso tanta fantasia, por isso a coragem, por isso a falta de limites...

Por isso; eu...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Bolinha de Borracha



A estrela sumiu
Faz muito tempo
Senti tanto sua falta
Morri um pouco no vácuo
Faltou ar, faltou água.
O chão sumiu,
Desanimação suspensa
Fiquei presa em Cronos
Anos...anos

Nesse tempo
Uma bolinha de borracha
Bateu na minha testa
A tal da testa aberta...
Entrou
Como tudo ali sempre entra
Ficou
Trapeziou
Me deslocou
Me entreteu

Foi então
Que a estrela, quem diria.
Apareceu
Voltou pra mim
E eu pra ela
Toda animada

Gira mundo
Mente gira
Gira estrela
Pula bola
Estrela na mão
Não quero mais
Entendi...
Sonhos racham
A estrela me consome
E eu só consigo pensar
Na bolinha de borracha

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Folha em Branco




Ando
Folha em branco
A mente escura
Tateando o nada
Cadê a fechadura?

A chave onde está?
Não há.
Perdi, aqui, ali,
Em algum caminho que segui
Ou não segui...

Rolha que não sai
Do gargalo do pensamento
Palavras apodrecem
Em ilegível lamento

Sílabas selvagens
Onde estão?
E aquelas conexões?
Reflexões corrosivas
Estarão vivas?

Viver é inventar
Frases no papel
Como flores num jardim
Frases cheias de espinhos
Espinhos que habitam em mim...

Onde estão as letras
E das letras, suas frases?
E das frases a prosa sônica?
A prosa; aquela rosa...
Cheia de versos-pétálas
Métrica perfumada
Regada com água tinta
Trôpega ou ritmada?

Meu jardim
De folhas rabiscadas
Seco de mim...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Jacaré dá

Um pé
De jacarandá
Jacaré dá

De menina via ovos
Balançando nos galhos
Da árvore do meu pomar
Crescida ao lado do rio

Primavera despertou
Ovinhos quebraram
Cascas sobre mim
Jacarezinhos no meu jardim

Queria guardar todos
Dentro de um bercinho
Nas meninas fiz lacinhos
Pros meninos comprei bola

Mas era o rio que eles queriam
E assim os fui perdendo
Os filhos meus, pequeninos
Nas águas partiram de mim

Foi quando peguei o machado
E jacarandá cortei
Tronco morto, virou jacaré
Que ali mesmo me engoliu

Fui dentro dele pelo rio
Jacarezando e rezando
Virei o que ele era, ele...Eu.
E sumi de mim pra sempre
Na primeira curva que apareceu...

Um pé
De jacarandá
Jacaré dá