sexta-feira, 6 de julho de 2007

O Amor Engorda




Antes dos trovadores
O amor não existia
Não assim feito paixãoIlusão e euforia
Era morno como banho de menina
Cauto como missa matutina

Cristandade ensinou; procriação.
Duas pessoas se uniam
Pelas leis da conveniência
Haja paciência,Era só papai mamãe
E um beijo gelado no rosto
Ah! Que era um sei lá, sem gosto.

Ai! Que então eles chegaram
Lá pelo século XII
Inventaram a dor do amor
Acenderam da paixão o fogo
Que lhes trouxe Prometeu
O alaúde fez amor com a trova
E esse Amor Eros nasceu

Então veio o desamor
E morte precoce
De desilusão
Almas desequilibradas
Neurótica obsessão

E essa foi acreditem;
A parte melhor
Pois se o amor paixão
Fizesse celebração
Que desastre!
Afrodite pôs maldição

Trovadores precursores
Do apetite sem limite
Dos amantes vitoriosos
Corpos esguios deram espaço
A silhuetas de ogro
Barrigas exageradas
Camas apertadas


Inventaram o colesterol
E com a mesa farta, o enfarto.
Celulite e estrias
Estômagos inchados de sapos
Peitos dentro das tigelas
Queixos engolidos por papos

E as Nádegas da matrona
Fez transformar a cadeira
Em suntuosa poltrona
Quem diria; trovadores!
Inspiraram novas tendências
Criaram os decoradores


Vá-te retro trovador!
Vá-te retro usurpador
Daquele meu corpo perfeito
Posso ver-me agora
Num quadro renascentista

Vá-te retro amor feliz!

Trovadores já morreram
Inventores do engordar
Quisera estivessem vivos
Pra que os pudesse matar!


Trovador hipercalórico
Empalo-te no pau da moldura
E querendo mesmo deixar rastro
Com a corda do teu alaúde
Satisfeita, te castro!


Vá-te retro Trovador!

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Trapezista Dentro da Cabeça

desenho: Heloisa Galvez
Foi pela fenda em minha testa aberta há séculos que ele entrou, não sei de onde veio, nunca me contou. Imaginei ter sido expulso de um teatro mambembe por amor a bailarina, amante do palhaço Chupetinha, ou veio depois que o circo Irmãos Gabrielle, do circuito Natal/Mossoró faliu...

Instalou seu pequeno trapézio na capota do meu crânio, deve ter usado uma furadeira, e outras ferramentas inclementes, foi aquela dor de cabeça que tive e durou o dia todo.Desde então sinto o vento norte sul constante em minha mente.

Não é fácil ter instalado um trapezista na caixa craniana, assim com toda massa cinzenta como espaço embalativo...Não é fácil.

Mistura os pensamentos com inocente alegria, penso que se apaixonou pela malabarista bipolar que já nasceu neste lugar, desde que ele chegou, vou do céu ao inferno com uma freqüência maior, juntos sei que chamam outros artistas, o bufão Abenias que morava no meu sorriso, migrou paro o cerebelo.

O trovador Rimbauld que servia sincero meu coração, fez tenda no encéfalo. Estou destituída de mim.

O circo está crescendo, pelas noites cresce mais, os anões que eu mesma chamei há muito tempo pra dentro de mim, pra livrar minhas veias dos radicais livres de lembranças presas estão migrando pra cabeça, somam 340 segundo minha última conta.

São boêmios como deve ser todo artista, por isso acenderam com tochas minhas noites de sono. Durante o dia divago, tento, planejo pra logo mais como um castelo de cartas caído, tudo embaralhar de novo. O pior de tudo; o público.

Faz uns dias começaram a surgir entre lembranças, pessoas tantas que sentam no afofado das poltronas pineais para assistir ao espetáculo invejável que produzem ali. O mágico Van der Kaplan abriu todos meus baús de idéias hermeticamente lacrados, não sei, mas conseguiu, como só se consegue um mágico.

Ouço aplausos há cada duas horas, às vezes me é concedida uma entrada e assisto também...Não há como não chorar, cada pedaço de mim, fazendo em minha cabeça tamanha folia contando tantas histórias, histórias da minha vida.

Foi pela fenda da minha testa que ele entrou, montou a tenda azul e amarela, desfez as minhas rédeas, e em minha mente criou esse palco que se torna itinerante quando ando, tropeçando pelas travessas e esquinas, indo, vindo...Sem ter noção alguma de quem eu sou, ou onde estou.

Assim caminho sem saber porquê...O show é um sucesso, ouça os cambistas!Vendem o bilhete 10 vezes mais caro que o preço do trapezista...

Estou sem ação, sinto o vento norte sul constante em minha mente. Não é fácil ter instalado um trapezista na caixa craniana, assim com toda massa cinzenta como espaço embalativo...Não é fácil.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Fragmento da "Menina da Lancheirinha"- Uma Briga com Anita Malfatti


Fui uma criança de sorte, sempre tive em minhas mãos, todas as histórias que quis, Anderson, irmãos Grimm, Esopo, Charles Perrault, Lewis Caroll,Carlo Coloddi de Pinóquio, entre muitos outros. A maior parte de tudo isso descobri entre as páginas maravilhosas dos inacabáveis livros vermelhos do maior tesouro da minha infância! “O Mundo Da Criança!”
Claro que as noites com Monteiro Lobato com minha mãe, foi a primeira semente plantada nesse jardim mágico. Agradeço tanto a ela por isso...
Sei hoje que existem muitos grupos anti-Lobato, pelo fato deste ter criticado alguns artistas da semana de Arte Moderna de vinte e dois...

E daí?
Eu o admiro ainda mais por isso, não menosprezo as novas obras e artistas que ali se destacaram e deixaram seus nomes para sempre na história.
Mas como não concordar com monteiro Lobato ao dizer da obra de Anita Malfatti:

“Quando as sensações do mundo externo transformaram-se em impressões cerebrais, nós ‘sentimos’; para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em ‘pane’ por virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer normalmente no homem, através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá ‘sentir’ senão um gato, e é falsa a ‘interpretação que do bichano fizer um totó (cão) um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes”.

Entendo completamente estas que por muito também foram minhas palavras muito antes de ter qualquer conhecimento dos proclames e repercussões que surgiram dessa semana. Sempre ao olhar um quadro abstrato, cubista ou “dissonante” demais, questionava que “a arte que precisa de explicação não pode ser chamada de arte”. Se a arte é feita para o publico não carece de um interprete cada vez que for apresentada.

E mais, Lobato sabia o dizia, afinal fora, desde o início de sua carreira, um pré-modernista. Irritado com os padrões oficiais de cultura, desvinculou-se das normas padronizadas da literatura, criando um estilo livre, avançado, valorizando a cultura nacional e discutindo temas voltados internamente para os problemas brasileiros! Mas não utilizava formas assimétricas porquê simplesmente não precisava de nenhum recurso, nem de linguagem ou estética, para escrever e principalmente encantar crianças de todas as partes e cantos, com a maior obra de literatura infanto-juvenil do Brasil.
Sim, sei que as palavras de Lobato levaram Anita a uma terrível depressão, mas ora! O artista tem que estar sujeito a isso, e desistir ao primeiro obstáculo, outorga a crítica de Lobato e a minha.
Anita, depois da ardorosa crítica, desviou sua arte para a “natureza morta” (nítida a simbologia que desviou sua obra para a mortalha) e deixou as aventuras de sua alma de lado.
Como diria mais tarde Mário de Andrade:

“Ela fraquejou, sua mão, e indecisa, se perdeu”.
Como fraquejar a mão? O instrumento do artista por causa de uma crítica?
Pobres são aqueles que só almejam elogios, e destroem suas artes ao primeiro ataque do verbo!
Lobato ainda falaria, tudo que um jovem artista, se comparado a um “alpinista” tem que dar ouvidos antes da escalada. Há que se escalar o monte, não pelo objetivo do cume, mas pela aventura do caminho bem percorrido, o cume é uma conseqüência que pode vir ou não, dependendo de sua habilidade, do saber-se esperar, e do poder prosseguir na hora certa e não desistir só pela nevasca leve que cai, mas ao perceber que o cume ainda está longe o bastante para suas habilidades de principiante.

“O verdadeiro amigo de um pintor não é aquele que o entontece de louvores; sim, o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz chamente, sem reservas, o que todos pensam dele por detrás”

Lobato era um visionário, Anita não era artista de fato. Um artista não desiste da força que vem da sua alma! Desculpem-me seus fãs, mas fatos são fatos...

-Heloisa, este capítulo chama-se “Falando de Sexo”.
-Sim, e daí?
-Você falou de gnose, gnomos, irmão Grimm, Monteiro lobato, acabou com a Anita Malfatti e desenterrou mil citações, o que falou de sexo afinal?
-Agora você defende a Anita? Eu nada tenho contra ela, mas assumo minha postura crítica, sempre fui assim.
-Esqueça a Anita, minha pergunta foi o que falou sobre sexo?
-O que tinha que falar, não tenho culpa se não tinha mais.
-Ah, tem sim! Não vai me deixar aqui sem saber de tudo.
-Você esteve comigo, anta! Sabe que falei o que tudo quer que eu invente?Sabe que sou boa pra isso.
-Não, quero que descreva melhor e com mais detalhes seus raros momentos.
-Não vou fazer isso, já escrevi tudo do jeito que tinha que ser escrito.
-Você percebeu que fugiu do assunto assim que viu uma fenda no labirinto?
-Você virou uma devassa ou o quê?
-Quero saber porquê foge desse assunto.
-Eu deveria ter trancando melhor essa porta..
-Tonta só você acredita nessa metáfora idiota.
-Olha, não sei onde você está, mas eu estava bem, antes de saber que tinha que te buscar.
-Você estava uma merda! Lembra?Ou quer que eu fale?
-Cala a boca, o livro é meu!
-É nosso tudo que falta em você eu tenho em mim.
-Eu não quero virar uma devassa como você!
-Essa é boa, ambas sabemos que vai virar!
-Por sua causa!
-Sim, porquê você me baniu.
-E se não tivesse banido? Eu seria o quê? Uma dona de casa assistindo tv aos domingos?
-Não, mas talvez alguém que já estivesse em paz.
-Olhe, o que fiz, fiz, tinha que fazer e pronto! Estou voltando pra te buscar, depois veremos o que vai acontecer, enquanto isso fique quieta, assim só atrasa!
-Quer um conselho?
-Fala, já que vai falar mesmo.
-Mude o título do capítulo, coloque “Falando sem Nexo”
-Vaca!