
Quando nasci
Puseram fios em minhas mãos
Pés, cabeça, costas, boca
Vestiram-me com certa roupa
No palco dei os primeiros passos
Passos valentes, passos em falso...
Tantas vezes recebi aplausos
Quantas me quebrei inteira
Na queda direta
Seqüelas perpétuas
Do cadafalso
Passos valentes, passos em falso...
Um dia meus fios caíram
Percebi certa autonomia
Andava, falava e ainda caia...
O palco deixou de ser moradia
Ia e vinha...
Passos valentes, passos em falso...
Enfim conheci a morte
Senhora soturna, belíssimo porte
Aprendi que sou igual a você
Você também tem fios
Glórias, desafios...
Passos valentes, passos em falso...
A vida é o palco de gozo e horrores
Vaias, aplausos,
Cadafalsos, abraços.
O palco é a vida...
E a vida é feita de passos
Passos valentes, passos em falso...
Por isso jamais
Desmarque algum ato
Desse espetáculo;
Cavalo de carrossel
Boca de tubarão...
Passos valentes, passos em falso...
Que passarão...