sexta-feira, 20 de abril de 2007


(Fragmentos da Menina da Lancheirinha) Mamãe

Minha mãe e sua aparência física é quase uma incógnita para mim. Quando criança ao olhar pra ela, percebia que não era um mulher linda, não tão bonita, quanto achava meu pai, nem um simples traço que lembrasse a beleza nas fotos antigas de minha avó.

Minha mãe, entre os quatro filho, acho que foi a única que herdou traços do meu avô,como a boca fina demais, os olhos tristes, embora verdes, como quase toda família. Também projetava um nariz agressivo, pequeno e muito fino, sua altura também não ajudava muito, um metro e cinqüenta.
Digo que sua aparência era uma incógnita porque algumas vezes olhava pra ela e via a mulher mais linda do mundo, via uma Elisabeth Taylor jovem, e muito mais bonita.
Um dia quando seus primeiros cabelos brancos apareceram , cheguei em casa e encontrei uma mãe loira. Nunca mais então tive aquela visão de musa. Algo havia saído do seu lugar.


Minha mãe como eu disse não era muito carinhosa, mas eu queria seus carinhos e quando queria muito sabia como conseguir, não era sempre, mas às vezes eu queria tanto que inventava uma dor, um queda, ou qualquer história pra me vitimizar, quando ela não entendia, quando minhas palavras não bastavam pra alcançar meu objetivo, eu corria chorar atrás da poltrona vermelha da sala de estar, aí sim, ela vinha:
-Que foi amor?
E me dava finalmente seu colo. "Aprendi que atrás da poltrona vermelha é que estavam escondidos os abraços da minha mãe."


Eu lembro de momentos eternos, digo eternos porque quando você os têm, no momento que sente, você pensa “Este Momento Será Eterno” , claro que não pensa exatamente assim, mas sente....Existiu um momento precioso demais em minha infância, que veio tão desregrado que tenho que parar pra pensar.


Foi o momento que descobri o quanto amava minha mãe e quanto carinho e cuidado tinha por ela, foi assim, ela estava dentro do “Armarinho-que-ficava-debaixo-da-escada” eu estava passando e a vi, fiquei espiando o que fazia.

Ela procurava uma lâmpada; lá era uma espécie de depósito, então achou a lâmpada olhou pra ela e a chacoalhou....
Hoje sei que se chacoalha uma lâmpada pra ver se está quebrada, mas naquele dia, não sabia. Não sei por que está visão me marcou tanto. Se fosse possível expressar o que senti numa frase diria assim “Nossa, eu amo imensamente essa pequena mulher que chacoalha a lâmpada”


É fácil metaforizar isso de várias maneiras, livros, idéias, lâmpadas....Mas o que senti naquele dia não foi pensado, foi só uma explosão espontânea de amor profundo por um ser...



Um comentário:

Vivian Guilhem disse...

Eu amei o texto!!!!!
Você é o ser mais doce e sensível que eu já conhecí...
Por isso é uma mãe maravilhosa!!!
Amo vc!